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Os Huni Kuin (gente verdadeira) também conhecidos como Kaxinawá, são uma etnia indígena sul-americana pertencente à família linguística pano.

Habitam as regiões de floresta tropical no leste peruano (do pé dos Andes até a fronteira com o Brasil) e o estado do Acre, abrangendo a área do Alto Juruá e Purus e o Vale do Javari, sendo mais numerosos na região brasileira que na peruana.

Constitui a mais numerosa população indígena do Acre, com aproximadamente 7.535 indivíduos (segundo o censo de 2010). Atualmente a população é de cerca 12000 pessoas.

Vivem em situação precária de acesso a água de boa qualidade, utilizando a água dos Rios Jordão e Tarauaca. Para beber e cozinhar, além do trabalho pesado de carregar água do rio em grandes panelas até as aldeias, este trabalho geralmente é feito pelas mulheres. Este projeto impacta positivamente na vida destas mulheres.

O projeto “UPASH”
Agua em Hatxa Kuin – idioma falado pelos Huni Kuin

Foi iniciado em 2014, com iniciativa da Operadora Travessia Ecoturismo em parceria com a Agência inglesa Across the Divide. O objetivo do projeto é de abastecer as aldeias com água limpa, melhorando as condições de vida e de saúde da comunidade, através da construção de poços amazônicos e instalação de sistemas solares de bombeamento de água.

A região focal do projeto UPASH fica no Município de Jordão-Acre. São três terras indígenas HuniKuin contíguas: Alto Tarauacá, Baixo e Alto Jordão, totalizando 39 aldeias ao longo das cabeceiras dos Rios Tarauaca e Jordão.

Em 2014 e 2015, foram instalados dois sistemas completos com poços e bombeamento solar para caixas d’água e distribuição de água nas casas das aldeias Nova Cachoeira e Fortaleza.

Em 2018, o projeto foi retomado através da parceria com Fernanda Brandão, atriz brasileira residente na Alemanha que se solidarizou com a situação dos indígenas, financiando a construção de dois poços nas aldeias, Flor da Mata e Rosa Branca no Alto Tarauacá.

Em 2020, mais cinco poços amazônicos foram construídos nas aldeias Canafista, Nova Mina, Morada Nova, Xiku Kurumim e Novo Natal.

No início de 2022, com uma articulação entre Fernanda Brandão, a ONG alemã Target Ruediger Nehberg, instituto We Light e coordenação de Ion David da Travessia Ecoturismo, foi realizada mais uma etapa do Projeto Upash, a construção de cinco poços nas aldeias Pão Sagrado, Reino da Estrela, Bom Futuro, Sacado e Arco Íris e a instalação de dois sistemas solares de bombeamento de água nas aldeias Flor da Mata e Rosa Branca.

O projeto foi executado por uma equipe multidisciplinar de Alto Paraíso, Jordão e Terras Indígenas, incluindo especialista em energia solar, marceneiro, especialista em construção de poços, articulador indígena, barqueiros, entre outros.

O Sistema de abastecimento

O grande segredo na construção dos poços foi encontrar um bom olho d’água.

Há vários na floresta, e são geralmente escondidos onde tem afloramentos de argila, encontrado pelos locais da aldeia que apresentam para o especialista em construção dos poços, para avaliar se aquele é um bom olho d’água.

Em seguida, a etapa de compra e transporte dos materiais, visto que Jordão é um município isolado onde todos os materiais são transportados em pequenos barcos e com preço alto.

O transporte dos tijolos e materiais é feito pela comunidade no período de chuva quando os rios estão cheios. Uma vez que os materiais estão nas aldeias, o construtor inicia o trabalho cavando no local do olho da água e fazendo a alvenaria e o assentamento dos tijolos maciços com cimento. Enquanto isso, um ajudante mantém o poço seco retirando a água com balde.

Após os poços construídos, o próximo passo é a instalação do sistema solar de bombeamento de água que utiliza um sistema sem bateria. A energia vai direto da placa para a bomba e ao invés de armazenar a energia, o sistema armazena a água em caixas. Enquanto tem luz solar, a bomba está funcionando bombeando água para as caixas d’água. O sistema desliga automaticamente com boias, se o poço tiver com volume baixo ou a caixa estiver cheia.

O sistema instalado em cada aldeia tem duas caixas d’água de 2000 litros interligadas em série, em cima de uma grande torre de madeira. O espaço embaixo é aproveitado para fazer chuveiros e locais de utilização de água.

Nos projetos de 2014 e 2015, foram instalados canos e torneiras em todas as casas da aldeia. Porém, percebemos que esse sistema ficou frágil, pois com um vazamento de um cano quebrado, podemos perder toda a água da rede. Assim, desta vez optamos por fazer uma torre de distribuição de água em um local central na aldeia.

Ultima etapa do Projeto Upash 2022

Ion David, coordenador, e Sergio Sandesh, técnico em energia solar, fizeram uma viagem para as aldeias onde os poços foram construídos.

Sandesh instalou o sistema de bombeamento solar para caixas d’água em duas aldeias: Rosa Branca e Flor da Mata. Ion, acompanhado pelos líderes Huni Kuin Eloi Kaxinawa e o Vereador Avelino Sales Kaxinawa, visitaram as 14 aldeias onde os poços foram construídos, além de, fazer o planejamento de instalação do sistema de água em cada uma.

Durante as visitas, foi perceptível que o Projeto Upash tem um grande impacto positivo nas aldeias onde a instalação foi complete. Uma grande e notável diferença nas famílias, especialmente para as mulheres, que além de terem água de qualidade, não precisam mais carregar na cabeça.

Desde o início do projeto, construídos poços amazônicos em 14 aldeias e a instalação de bombeamento solar em 4, tendo impactado positivamente com acesso à água limpa em 239 famílias e 1158 pessoas.

No total, são 37 aldeias nestas três terras indígenas.

Ainda há muito o que fazer pois a situação que a maioria dos Huni Kuin vivem é extremamente precária, um caso sério de saúde pública que deveria estar sendo assistido pelo Estado.

Notas de Viagem

Durante a viagem, fomos acompanhados por Eloi Kaxinawa, supervisor de educação indígena e Avelino Sales, vereador, guias e guardiões, cruciais para o sucesso da viagem. Conhecem muito bem os canais por, aonde navegar, pois o Rio Jordão é assoreado e raso com muitos troncos de árvores caídas.

Ambos exímios conhecedores dos barcos e motores, além de, mecânicos que por algumas vezes tiveram que desmontar o motor.

Durante toda a viagem, conversavam com os professores das aldeias sobre o projeto de reforma e construção de escolas nas terras indígenas.

Visitamos um total em 25 aldeias, em cada aldeia que parávamos éramos recebidos por uma comitiva que avisava a todos da nossa chegada. Com a comunicação das buzinas, éramos convidados para entrar na casa das lideranças.

Nas visitas aos poços, pegávamos as coordenadas e fazíamos as medições de distância dos poços até o possível local de construção da torre central de distribuição de água, fazendo um planejamento inicial da solução de distribuição de água em cada aldeia.

Em cada parada nos serviam o melhor que tinham em suas casas.

Experimentamos muitas iguarias da cultura HuniKuin, como várias formas de comer banana cozida, assada, amassada, mingau, banana-verde frita, banana seca. Diversas formas de amendoim. Muitos tipos de mandioca cozida com e sem folha, tipos diferentes de caisuma de mandioca, de milho, paçoca de amendoim, além de, muito peixe assado e cozido.

Por muitas vezes havíamos acabado de sair de um banquete em uma aldeia e quando parávamos em outra éramos recebidos com mais comida!

Os HuniKuin são um povo farto e hospitaleiro em sua essência, nos sentimos muito bem acolhidos por todos e pela floresta.

Agradecimentos especiais

a Fernanda Brandão e a Ong alemã Target, que viabilizaram o recurso para a conclusão desta etapa, ao instituto We light pelo apoio, ao técnico em Energia Solar Sergio Sandesh, que trouxe sua experiência em instalações robustas e duráveis, ao Eloi Paulino que coordenou localmente a construção, Avelino pelo apoio durante a viagem e todos que colaboraram para o sucesso deste projeto.

Ion David

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